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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Por sua causa parei de fumar



Todo dia. No mesmo horário. Lá vem ela, passando com seu coque azul bagunçado, livro na mão e bolsa de lado. Azul é minha cor preferida. E o cabelo dela é o meu preferido. Sempre que a via passar na calçada do outro lado da rua, imaginava como ela deveria ser interessante. Do alto da janela, eu sonhava em conhecê-la. Com o cigarro aceso, eu desejava tê-la para mim. Mas eu sabia, nunca trocaria uma única palavra com a moça de jeito chamativo.
Meu avô costumava me dizer que o mundo é uma coisa engraçada, que o destino é um circo e, às vezes, nos faz de palhaços. Mas penso que foi uma ótima palhaçada o que o destino, talvez, tenha me feito.
Um dia de crise, sem isqueiro, sem fósforo e, pior, sem cigarro, fui para a janela esperar a mulher de cabelos coloridos. Um grito. "Hey, acabou o cigarro?" Na rua, do outro lado da calçada, com seu coque azul bagunçado, livro na mão e bolsa de lado, ela olhava na minha direção. Encolhi os ombros, levantei as palmas das mãos e respondi: "Fazer o que, né?!"
Parei de fumar por causa dela. Pode ser bobeira - e talvez não consiga me expressar muito bem -, mas o cigarro estava mantendo-a à uma distância desnecessária de mim. No outro dia, sentei na calçada, ela passou e começamos a conversar.
Hoje ela está aqui - estou escrevendo enquanto ainda dorme. Registro cada detalhe de seu rosto e desenho-os dentro de minhas pálpebras fechadas. Seus cabelos azuis espalhados pela cama a deixa mais viva. E, sim, ela é interessante. Sua personalidade me deixa intrigado. Ela é linda. E minha.
Ela está aqui, e não há cigarro no mundo - no meu mundo - que a fará ir embora. Ela está aqui, e o mundo é engraçado.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

30Days: Estranhos conhecidos


Para ver o começo da história clique aqui




— Olá. O que vai querer tomar? — Essa é a voz de algodão. Linda, inspirante. E Bruno desejou ser o primeiro de seus clientes. 
— Apenas... hum... Eu quero um café. Isso. Um café — ela foi até a cafeteira, Bruno se odiou por gaguejar na frente dela.
A moça de cabelos de fogo voltou com seu café saindo fumaça, do jeito que ele gostava.
— Veja se está bom — disse assim que entregou.
Bruno fitou aqueles olhos verdes, sem conseguir desviar o olhar. Ela era linda. Precisava dela para o seu livro. O café estava forte, do jeito que ele gostava.
— Está maravilhoso. Obrigado.
A moça saiu, mas ficou por perto. Bruno não sabia, mas o nome dela era Alice e também estava atrás de alguém para uma história. Coincidência? Não, talvez seja o destino lhes pregando uma peça.
Alice se lembrava daquele homem, que poucos dias atrás estava observando-a, ou olhando para os homens - ela gostava do mundo daquele jeito, diferente -, naquele mesmo barzinho ajeitadinho de esquina. Ele foi a primeira pessoa com quem Alice quis realmente conversar, quis saber da vida dele para escrever algo. Sabe quando a gente vê uma pessoa e pensa que ela pode ser uma pessoa legal e, logo, quer ser amiga da pessoa? Alice quis.
— Você vem aqui todos os dias? — A moça perguntou ao moço, que estava um tanto quanto concentrado no que estava fazendo em seu notebook.
— Sim, venho todos os dias — esperou um pouco, decidindo o que perguntar. Decidiu fazer uma brincadeira — E você, vem sempre aqui?
Ela riu. Gostou da brincadeira.
— A partir de hoje, sim.
Bruno escreveu sobre seu senso de humor, sobre a maneira como seus lábios se curvavam quando sorria. Ele estava surpreso de ela ter puxado assunto, mas agora ele não sabia o que dizer. Estava tocando Johnny Cash, resolveu perguntar de música.
— É você quem coloca essas músicas?
— Sim.
— Você gosta de blues?
— Mais ou menos. Mas o Zé é quem gosta mais, ele quem pede para colocar — Zé é o dono do bar. — E então, o que faz da vida? Só vem aqui?
— Escrevo. — Alice gostou, poderia aprender algo com ele. — Estou escrevendo um livro no momento.
— Ah, é?! Também escrevo, mas é para uma revista feminina. Tenho algumas leitoras fiéis, mas não são muitas. — ela sorriu com um pouco de vergonha.
Bruno não queria admitir, mas lia algumas revistas femininas, e deixo aqui bem claro que é somente pela parte de crônicas e contos pela qual ele se interessa. Talvez... Não, não seria possível que ele já teria visto aquelas sardas e o cabelo ruivo.
— Por algum acaso... Seu nome é... Amanda? Ou Alice? Anita?... Seu nome é com A? — Alice ficou surpresa e parou de fingir limpar o balcão. Aquilo, para Bruno, foi um tremendo sim.
— É Alice.

domingo, 10 de novembro de 2013

30Days: Talvez o penhasco seja, sim, uma boa ideia

  1. Descreva um lugar.




Sinto essa ventania ventar no meu rosto. Que sensação deliciosa. Esse penhasco até que é uma boa ideia. Minha atenção corre em direção a uma porta que acabara de ser aberta, seu rangido quebrando minha suave meditação, não penso nem hesito em passar por ela, mesmo não sabendo as intenções do que se tem atrás dela. Não sou de ter medo. Mas, bosta, cadê a organização? Consigo ver papéis de carta, canetas, cadernos, soldadinhos de brinquedo, rosas de plástico e outras coisa que não consigo recordar enxergar, todos esparramados no chão e em cima de escrivaninhas. Não tem janelas. Reconheço o lugar e dou logo um jeito de sair de lá. É bom não entrar nele novamente.

Um corredor. Cheio de portas e mais portas da minha vida. Será isso mesmo? Talvez as outras portas são melhores que a primeira. A maioria delas são lisas e cinzas. Não gosto das portas cinzas. Sinto-me com certa repulsa ao chegar mais perto das maçanetas. Não me assustam, só não gosto. Avisto algumas, pouquíssimas, portas coloridas e com entalhes diferentes. Corro até uma, curiosa. Há alguns desenhos nesta porta que eu sei o que é, mas não consigo identificar. Não sei de onde os conheço, mas sei que sei. Algo não me deixa entender o que são. Abro a porta tentando não pensar muito nos desenhos. Cadê o interruptor? Não está escuro a ponto de não se ver a um palmo de meu nariz, mas também não está tão claro que eu possa ver a partículas de poeira. Gorros verdes, grama, estrelas, pitanga, floresta, Gnomo! Deuses, agora eu sei. Os desenhos borrados sou eu e o Sr. Bacon, da maneira como eu o imaginava. Sempre bravo comigo por fazer minhas bagunças.

Saio. Com boas, e algumas tristes, recordações. Decido entrar em umas das portas cinzas. Escuto as tábuas do chão de madeira ranger e giro a maçaneta da porta, escutando alguns resmungos. O quarto é escuro, muito escuro. Entro e a porta se fecha atrás de mim. As luzes clareiam algumas vezes, bem rápido. Parecendo aquelas luzes estroboscópicas. Ouço um choro baixo e sinto vontade de correr daquele quarto sujo e mofado. Nada nesse quarto é bom. Aqui é triste, deplorável, sem cor. Quero sair, mas não consigo me mover. Tento gritar, mas nada mais que um sopro. Sinto água nos meus pés, subindo rápido, sem parar. No meu queixo. Na minha boca. É meio salgada. Lágrimas? Tento gritar de novo, mas agora a porta se abre e a água toda vai embora. Vejo uma pedra amarrada num cordão "voando", consigo mexer-me!, e vou atrás dela. Tranco a porta. Não seria bom se alguém entrasse ali. E aquela pedra clarinha parece ser minha salvação.

No corredor novamente, correndo, mantenho-me longe das portas cinzas e dou ligeiras olhadelas nas que estão decoradas. Conchas. Penas. Borboletas. Mas isso não importa mais. Não quero mais ficar aqui dentro, mesmo que haja coisas boas, as ruins nos atormentam por mais tempo.

O verde daquela grama aparada me chama e eu não quero recusar seu convite. Mas o céu está tão lindo à minha frente que não resisto e continuo correndo. Sei que tem um penhasco logo mais e um rio lá em baixo. Mas aqui é meu, e se eu quiser ter asas, talvez eu tenha asas! Eu posso. Não gosto da casa da qual acabei de sair, pode até ser bonitinha, mas dentro dela não há apenas coisas bonitinhas. Por isso, prefiro aqui fora. O ar fresco, a água cristalina, a adrenalina de pular. É minha cabeça. É meu.



quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Eu não quero não ter tempo



Venha ficar comigo, me faz um carinho e eu te digo o que está preso na garganta. Pode ser que não seja tão bom, mas faço o possível para engolir as tristezas. E talvez eu vá para aí. Levo uma escova de dentes e duas mudas de roupas. Não tenho tanto medo quando estamos juntos, e isso me faz querer estar contigo permanentemente. Deixa eu me esconder em você. Ajude-me a não permitir que essa escuridão consuma toda a luz daqui de dentro. Vamos deixar essas questões mal resolvidas para lá. Vamos viver, ocupar os lugares bonitos dos nossos corações.

O mundo é uma constante metamorfose e não há hora para parar, nós não vamos parar. Tudo o que devemos fazer é, simplesmente, nos divertir e não pensar muito no futuro. Pensemos quando formos velhos e chatos e não tivermos nada que possa nos divertir. Temos inúmeras chances de fazer tudo certo, mas... vamos nos permitir errar nos acertos, algumas vezes. Li em um dos meus livros que "Você nunca sabe quanto tempo vai ter" e essa frase ficou na minha cabeça por um bom tempo, ainda está, na verdade. Não quero perder as oportunidades de ser feliz - ainda mais do seu lado - por não "ter" tempo e ser sempre a certinha de tudo. Não é a minha cara.

Mesmo não querendo pensar no futuro - que seria taxado de certo pela sociedade em geral - no momento, minha resposta é clara e sincera: Sim, eu prometo! Prometo nunca sair da sua vida, prometo não deixar acabar, prometo tentar ser suportável. Sem muitas crises e choros e dramas. Mas, prometa também que você vem comigo, que não vai me deixar sozinha nesta estrada cheia de buracos e breus assustadores, que nossa vida não será uma mesmice chata e tediosa. Nós não podemos ficar chatos e tediosos.

Há alguns dias, eu acordei com essa imensa vontade de sair da minha vida e ter um pouco mais de aventuras. Mas não quero sem você. Não adianta sem você. Porque você é a minha graça, você é a minha emoção. Leia isto! Você é a minha emoção.

Então... Você vem?


sábado, 2 de novembro de 2013

MEME {Como eu leio!}

Oi, galerinha! Vim com um post meio diferente hoje. Vou fazer um MEME! Sempre vejo as meninas de outros blogs fazendo e acho muito legal, pois dá para nos conhecermos melhor. Estava passeando e achei esse no blog da Dinha Vieira, e resolvi fazer. Sim, sem indicação alguma.
Então, lá vai: